Eu sou um idiota. Porque tem que ser estúpido mesmo para não se incomodar com os incômodos que causam uma máscara de pano no rosto. Ao invés disso, eu me incomodo com as pessoas que estão intubadas para o auxilio aos seus pulmões comprometidos com a covid. E mais. Como um tolo, penso no sofrimento dos seus familiares angustiados a espera da volta do seu ente querido a convivência familiar.
Sentir a dor do outro é ser no mínimo ignorante. E eu confesso que sou. Idiota sou eu, que não vou celebrar a vida em grandes aglomerações temendo levar comigo o vírus e contaminar familiares e amigos.
Eu sou tolo demais em querer me manter distante das pessoas, esperando um dia ter segurança para poder abraçar.
Quem é esperto abraça agora. Festeja agora. E eu sou muito burro prá entender isso.
Temer em perder amigos. Não visitar minha mãe para a proteger. Usar máscaras apesar do incômodo. Coisas de um tolo orgulhoso, que se importa com a vida. Que chora a morte de amigos. Que se angustia com o sofrimento alheio. E que sofre em perceber que muitos não se incomodam. Que não percebem o óbvio. O perigo.
Se para alguns 50 é apenas um número. Para mim, são nomes. São pessoas. São seres humanos. Dona Nininha. Hideraldo e agora Fernando Aragão, além de tantas outras que se foram. São mais de 50 famílias que choram a perda de seus entes queridos. Mais de cento e dez mil no país.
Pessoas que se foram para nunca mais.
Silvio José
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