sexta-feira, 17 de maio de 2019

Bronca federal - Apuração sobre Flávio Bolsonaro pode avançar sobre milícia, PSL e primeira-dama






Os 95 alvos de quebra de sigilo bancário e fiscal na investigação sobre o antigo gabinete de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) ampliam os possíveis desdobramentos para investigações sobre milícias, a condução do PSL no estado -sob comando do senador- a primeira-dama Michelle Bolsonaro e até a ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro.

Todos esses novos braços potenciais surgem de ex-assessores de Flávio que passaram por seu gabinete entre 2007 e 2018, mesmo período em que lá esteve Fabrício Queiroz, o policial militar aposentado pivô da investigação. 

Queiroz indicou para o gabinete do então deputado duas parentes de um ex-PM acusado de comandar uma das milícias mais violentas da cidade. Flávio, por sua vez, usou suas assessoras na Alerj para tocar a própria campanha ao Senado e estruturar o PSL do Rio de Janeiro. 

Ao mesmo tempo, o gabinete de Flávio -assim como de toda a família- abrigou parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda ex-mulher do presidente com quem ele teve um rompimento atribulado em 2008 –período que inclui as quebras de sigilo.Outro ponto que pode ser aprofundado é o pagamento de R$ 24 mil feito por Queiroz à primeira-dama. O presidente afirma que o repasse é parte da quitação de um empréstimo de R$ 40 mil dado ao PM aposentado. A quebra de sigilo pode esclarecer esse ponto -Michelle, diferente do marido, não tem foro especial e pode ser investigada pela Promotoria no Rio. 

O pedido de afastamento do sigilo bancário e fiscal foi o primeiro passo judicial de investigação após um relatório do governo federal, há quase 500 dias, ter apontado movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta bancária de Queiroz. 

Além do volume movimentado na conta de quem era apresentado como motorista de Flávio, chamou a atenção a forma com que as operações se davam: depósitos e saques em dinheiro vivo.Queiroz já admitiu que recebia parte dos valores dos salários dos colegas de gabinete. Ele diz que usava esse dinheiro para remunerar assessores informais de Flávio, sem o conhecimento do então deputado. 

Esse posicionamento serviu como uma das bases para os pedidos de quebra de sigilo de todos os ex-servidores do gabinete de Flávio.Isso inclui servidores que circularam também pelos gabinetes do próprio Jair Bolsonaro, quando exercia mandato na Câmara dos Deputados, como do vereador Carlos (PSC-RJ). 

Também estão no alvo Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonças da Costa da Nóbrega, mãe e mulher do ex-PM Adriano da Nóbrega, acusado de comandar a milícia de Rio das Pedras e Muzema -onde dois prédios desabaram matando 24 pessoas. 

A quebra de sigilo de ambas pode aprofundar a apuração sobre a quadrilha, caso confirmada a suspeita de investigadores de que familiares eram usados como laranjas de milicianos. Confirmada essa tese, a investigação sobre essa organização criminosa entra de vez no gabinete de Flávio. 

O senador também tinha duas ex-assessoras de confiança no gabinete que se tornaram as responsáveis financeiras por sua campanha ao Senado, de boa parte dos candidatos do PSL no Rio de Janeiro e do próprio diretório regional, comandado por Flávio. 

Valdenice de Oliveira Meliga foi tesoureira da campanha do senador e a contador Alessandra Ferreira de Oliveira, responsável financeira do PSL-RJ.Como o jornal Folha de S.Paulo revelou em fevereiro, a empresa de Alessandra e parentes de Valdenice foram beneficiados com verba pública do fundo eleitoral. A empresa da contadora, também tesoureira do PSL-RJ, recebeu R$ 55,3 mil de 42 candidatos, sendo a maioria mulheres que só receberam a verba do diretório nacional na reta final da eleição.

Ana Cristina, ex-mulher de Bolsonaro
Há ainda nove parentes de Ana Cristina, ex-mulher de Bolsonaro com quem teve um rompimento atribulado em 2008.À época, ela acusou o presidente de ter sumido com um cofre de joias e dinheiro. O Itamaraty afirma também ter ouvido dela em Oslo, onde Ana morou após o rompimento, que Bolsonaro a ameaçara de morte durante o processo de separação.

Tanto Bolsonaro como Ana negaram o roubo e as ameaças no ano passado, durante a campanha, quando os relatos foram revelados. A ex do presidente concorria a deputada federal usando o sobrenome da família do ex-marido -ela não foi eleita.

A evolução patrimonial de Flávio Bolsonaro também está sob a mira dos investigadores. O Ministério Público vê indícios de lavagem de dinheiro nas características das 19 operações imobiliárias realizadas pelo senador nos últimos 14 anos -todas reveladas pela Folha de S.Paulo em janeiro de 2018. 

O senador afirmou que é alvo de uma investigação ilegal e que o caso tem sido usado para atingir o governo do presidente Jair Bolsonaro. Ele nega as irregularidades de que é suspeito.A defesa de Queiroz também nega os crimes apurados pelo MP-RJ e diz que a decisão para afastar os sigilos são ilegais, bem como a condução de toda a investigação da Promotoria.

Valdenice e Alessandra afirmaram que não foram notificadas da decisão de quebra de sigilo, mas que estão tranquilas em relação ao caso.Ana Cristina Siqueira Valle desligou o telefone após a reportagem se identificar.A defesa de Nóbrega não retornou às ligações
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Com informações da Folha de Pernambuco

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