quarta-feira, 1 de julho de 2020

"São João de Caruaru 2020: Uma festa de incapacidades" - Por Cláudio Soares

Não tenho hábito de criticar mal nossa maior vitrine de cultura e costumes. Todas as vezes que a festa aconteceu, até mesmo nos piores momentos de qualidade duvidosa guardei as palavras para que não ferisse nosso patrimônio. Porém agora está tudo assim, diferente. Nos confrontamos com a realidade da sua não-realização e esta foi uma dor que perdurou o mês de junho inteiro. Acabamos incapazes de viver a festa real e pior ainda, tivemos remotas possibilidades de vivê-la no mundo virtual.

Depois de tantos anos, não vemos o maior símbolo da festa erguido, o balão junino no bueiro, criado pelo artista pl;astico Marcos Bezerra, não emprestou mais suas formas e cores para nossa eterna nostalgia. Nem mesmo nossas tradições mais duradouras imaginárias, como a soltura de balões, ou reais, como a fogueira, escaparam. Aliás, a “proibição” de fogueiras por três vésperas de dias santificados deve fazer mesmo muito estrago. Maior até que o ano inteiro de lenhas queimadas nas caldeiras e fornos de lavanderias e padarias na cidade. Somos incapazes até de ser racionais nisso.

Caruaru reproduz para todo o planeta muito mais que sua privilegiada posição geográfica, aquilo que muitos adoram viver, mas que nunca “curtem” apoiar. A sua famosa Feira, seu representante-símbolo Mestre Vitalino e a aura que se ergue no apelido de Capital do Forró impulsionado por sua festa de São João. E por esse mês inteiro, foi incapaz de lhe dar a dimensão merecida no mundo virtual, das famosas transmissões modernas apelidadas de “Live” porque a prefeitura não se mostrou capaz de entender a dimensão do nome SÃO JOÃO DE CARUARU neste conceito. Enquanto Campina Grande, a grande rival, se destacou por sua programação de lives, deitamos naquele berço esplendido ardilmente forrado pela incompetência.

Não se sabe o que virá desse futuro redescoberto, desse novo normal que insistem em falar e não conhecerem. Mas a gente sabe o quanto vivemos de inabilidade, de falta de diálogo, de negligenciada afirmação de valores culturais. Para tudo isso existe causa e efeito. E espero firmemente que passará e que nunca mais volte a acontecer para que todos que trabalham em torno da festa não precisem viver de campanha política antecipada com cestas básicas etiquetadas de “Mais 4”. Antes mesmo de uma Política Pública de Cultura, erguida a duros passos e preconceitos, precisávamos nos fortalecer como patrimônio. E isso tem sido impossível para quem só é capaz de pensar meramente em eleição.

Claudio Soares é Consultor em Eventos Públicos e Privados

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