quarta-feira, 13 de março de 2024

Advogada explica a importância de todos os tratamentos para o TEA serem abarcados pelo plano de saúde


De acordo com dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, sediada em Geórgia, 1 em cada 36 crianças têm Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Mas o grande desafio começa após a descoberta do TEA, pelos pais, com os planos de saúde, que ainda se recusam em cobrir o tratamento para pessoas com autismo. Em 2022, foi sancionado o Projeto de Lei 2033/22, que se converteu na Lei 14.454/22, que pôs fim no caráter taxativo do rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e o transformou em exemplificativo.

Contudo, uma nova polêmica sobre o assunto tem sido levantada pela Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), que desta vez pretende apresentar uma proposta à ANS, para que não haja a cobertura total dos tratamentos relacionados ao TEA por planos de saúde. Ainda, o setor explica, em um dos seus argumentos, que os custos com procedimentos para pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo superaram os gastos com tratamentos oncológicos.

“Cumpre relembrar que a Resolução ANS nº 469/2021 proíbe a limitação do número de sessões de terapias para pacientes autistas. Porém, por outro lado, a negativa continua sendo uma premissa dos planos de saúde, levando a judicialização excessiva desses casos. A recusa das operadoras em tratar pessoas com autismo lidera o número de processos na Justiça de São Paulo relativos à negativa de cobertura assistencial pelos planos médicos, conforme pesquisa do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que analisou ações no Tribunal de Justiça entre janeiro de 2019 e agosto de 2023”, afirma a advogada do Contencioso Cível em Martorelli Advogados, Debora Oliveira.

A especialista informa que os dados comparativos entre o autismo e o câncer remontam a uma tentativa de alcançar a opinião pública em seu favor. “Aqui, é necessário esclarecer que tal comparação é ilógica. O câncer é um termo que abrange mais de 100 diferentes tipos de doenças malignas, relacionado ao crescimento desordenado de células. Como doença, pode ter cura. O autismo, por sua vez, não é doença, e sim uma condição, um distúrbio do neurodesenvolvimento, que é permanente e acompanha o indivíduo por todas as etapas da vida. Não há cura, mas o tratamento consiste nos melhores resultados em interações sociais, integrações sensoriais e comunicação”, destaca.

Porém com negativas frequentes em fornecer tratamentos, as operadoras de planos de saúde vêm criando estratégias para não cumprir a regulamentação da ANS, em sua totalidade. Um dos meios implementados é a prática de cobrança de preços abusivos, alegado crescimento anormal de despesas e um cenário de insegurança e instabilidade financeira. Sobre isso, Debora Oliveira informa que o tratamento não deve ser visto, meramente, como gasto, mas deve abarcar o bem-estar físico, mental e social para pessoas dentro do espectro autista.

“Por acaso, o aumento dos casos de câncer, em algum momento, levou a limitação das quantidades de quimioterapia? Não, e de igual forma deve ser enxergada a realização de terapias para o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Por fim, se adentrarmos na análise financeira, também não há razoabilidade para qualquer alegação de prejuízos. Os planos tiveram resultados positivos em 2023, pois o setor registrou lucro líquido acumulado de R$ 3,1 bilhões, o melhor resultado do período nos últimos 2 anos, conforme divulgação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Nada respalda o discurso apresentado pelas operadoras de saúde, que subestimam a imprescindibilidade em garantir os direitos fundamentais e o direito à saúde em sua totalidade”, conclui.

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