O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o terceiro na série de entrevistas com os presidenciáveis no Jornal Nacional, na Rede Globo. A sabatina, feita pelos jornalistas William Bonner e Renata Vasconcelos, dura 40 minutos e aborda vários temas, começando sobre a corrupção. Lula foi questionado sobre mensalão, orçamento secreto, centrão, lista tríplica para a Procuradoria-Geral da República, agronegócio entre outros.
Corrupção - Durante cinco anos fui massacrado e estou tendo oportunidade de falar disso ao vivo. A corrução só aparece quando você permite que ela seja investigada. A gente criou a Lei Anticorrupção e colocou o combate aos cartéis. A Polícia Federal recebeu mais liberdade que em qualquer governo. Se cometer erro, vai ser investigado. Condena ou absolve. A Lava Jato ultrapassou o limite da investigação e entrou na política. E o alvo era Lula. Quando entramos com habeas corpus foi bem antes do hacker. Não há hipótese de alguém cometer qualquer crime e não ser investigado. É assim que se combate a corrupção no país. Medidas estão colocadas. Poderia ter escolhido um engavetador. Poderia ter impedido a PF de investigar. Eu já disse 500 vezes que poderia fazer decreto de sigilo de cem anos para não apurar nada e não vai ter corrupção. Eu tive a sorte de ter um ministro do porte de Márcio Thomaz Bastos.
Ministério Público - Você não pode dizer que não houve corrupção porque as pessoas confessaram. O roubo foi oficializado pelo Ministério Público. Aqui no Brasil as pessoas são condenadas pelas manchetes de jornais e depois não voltam atrás. Por conta da Lava Jato a gente deixou de arrecadar R$ 6 bilhões. A gente pode fazer investigação com seriedade como na França, na Alemanha. Aqui no Brasil, as empresas quebraram. Se eu ganhar as eleições, a gente vai fazer um plano de infraestrutura e esse país vai voltar a andar.
Lista tríplice da PGR - Não disse ainda se vou respeitar lista tríplice porque quero que ele (Augusto Aras) fique com a pulguinha atras. Porque eu respeito muito as instituições. Não quero procurador leal a mim. Quero leal ao povo. Não quero amigo na Polícia Federal, no Ministério Público, no Itamaraty. Quero as instituições fortes. Quero pessoas ilibadas. O delegado não está lá pra fazer as coisas que eu quero. A seriedade das instituições é que vai garantir a não corrupção. Vou voltar para fazer o que eu não sabia que poderia fazer. Vou fazer melhor.
Economia - O Brasil estava quebrado em 2002. Quebrou duas vezes no governo de FHC (Fernando Henrique Cardoso). Quando tomei posse em 2003, o Brasil tinha 10,5% de inflação. Reduzimos. Reduzimos a dívida pública. Fizemos reserva e ainda emprestamos dinheiro ao FMI. Fizemos também a maior política de inclusão social. Credibilidade, previsibilidade e estabilidade são as três palavras para se governar um páis
Governo Dilma - Dilma é uma das pessoas por quem tenho o mais profundo respeito. Fez um primeiro mandato extraordinário para manter emprego. Ela cometeu equívocos na questão da gasolina, na isenção fiscal e quando tentou mudar tinha uma dupla dinâmica contra ela: Eduardo Cunha, na Câmara, e Aécio Neves, no Senado. Quando você deixa o governo quem entra é que vai mandar. Acho que é possível recuperar esse país, deixar a economia voltar a crescer. Vou voltar para provar que é possível fazer mais.
Centrão - Você acha que o mensalão é mais grave que o orçamento secreto? Nenhum presidente da República governa sem estabelecer relações com o Congresso. O Centrão não é um partido político. Quem ganhar as eleições vai ter que conversar com o Congresso Nacional, com os partidos em separado. O Centrão foi um nome criado para evitar o avanço da gente na área social.
Orçamento secreto - Não é moeda de troca. É usurpação do poder. Acabou o presidencialismo. Bolsonaro não cuida mais de nada. Quem cuida do orçamento é o Lyra. Acabar com essa história de semipresidencialismo. Bolsonaro parece o bobo da corte. Vou convencer (os deputados) conversando com eles. Vamos resolver. Espero que a sociedade aprenda: o Congresso Nacional é resultado da sua consciência.
Governabilidade - Não estamos vivendo no mesmo mundo. Alckmin é esperto e habilidoso. Fiquei com inveja dele outro dia. Fez um discurso e foi aplaudido de pé. Ele já foi aceito de corpo e alma. Tenho 100% de confiança nele. E vamos consertar esse país. Esse país vai voltar a crescer. O povo tem que voltar a comer picanha e tomar uma cervejinha.
Lições - Feliz era o Brasil quando a polarização nesse país era entre o PT e o PSDB. A gente não se tratava como inimigo, mas como adversário. Militância é como torcida organizada. Política é assim. Você briga, mas não é inimigo. A polarização é saudável no mundo inteiro. Toda vez que tem mais de uma pessoa, há polarização. E ela é estimulante. Faz a militância carregar bandeira. Importante é não confundir polarização com ódio. Se tem uma coisa que eu aprendi a fazer foi negociar, conversar com os contrários.
Agronegócio - Queria que você chamasse o nome mais reacionário do agronegócio e perguntasse o que Bolsonaro fez pra ele que tenha chegado perto do que fizemos. Nenhum governo tratou do agronegócio como nós. A nossa política é em defesa da Amazônia, do Pantanal. Nossa luta contra o desmatamento faz eles serem contra nós. Qual foi a terra produtiva que os sem-terra invadiu? O agronegócio fascista e direitista quer desmatar a Amazônia. O empresário que trabalha sério, que exporta para Europa e para China não quer desmatar. Precisamos explorar corretamente, cientificamente a biodiversidade da Amazônia. O MST está fazendo uma coisa extraordinária. Tem várias cooperativas e é o maior produtor de arroz orgânico. Bolsonaro está armando e nós não queremos isso. É extremamente importante a convivência pacífica entre essa gente.
Sobreania interna - Para um democrata, a gente precisa respeitar a determinação dos povos. Cada um cuida do seu nariz. Não existe ninguém insubstituível. Quando ele começa a achar isso, vira ditador. É importante a alternância de poder. Se eu ganhar, você vai ver a enxurrada de desaparecidos que vão surgir.
Com informações da Folha de Pernambuco
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