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Imagem: Diego Nigro - JC Imagem |
Em meio a
enxurrada de informações a cerca dos desdobramentos da Operação Lava Jato a
classe política se vê envolta em um verdadeiro bombardeio diário de acusações
de crimes como, corrupção ativa e/ou passiva e lavagem de dinheiro.
Com a divulgação
da lista de políticos que serão investigados por supostos envolvimentos
ilícitos com a empresa Odebrecht, praticamente todos os partidos, com políticos
de quase todos os estados tiveram seus nomes expostos e muitos deles lutam para
provar que doações recebidas em períodos eleitorais aconteceram dentro da lei,
sem o cometimento de nenhum crime.
Um desses políticos
é o ministro Bruno Araújo. Deputado federal eleito em 2014, Bruno tem afirmado
na mídia que até o momento, nada do que foi levado à tona através de vídeos de
delações o incriminam. Tal linha também é seguida pelo blogueiro Reinaldo Azevedo, que em seu blog,
nesta terça-feira, traz trechos de falas que isentam Bruno de culpa de qualquer
acusação.
Confira abaixo o que escreveu Reinaldo Azevedo:
A tarefa de
jornalista e de analista não é torcer. Também não é se comportar como
justiceiro. Há um esforço permanente e nefasto para demonizar a política,
levada a efeito por alguns vigaristas, cuja moralidade está se revelando aos
poucos, não é mesmo? Este post vai tratar da delação que cita Bruno Araújo (PSDB-PE),
atual ministro das Cidades. Antes, algumas considerações e lembranças.
Cumpro aquela
que entendo ser a minha função. Quando os delatores dizem que pagaram caixa
dois a esse ou àquele político, dou o devido destaque. Mas também relevo o
conteúdo das delações quando estas negam que a pessoa A ou B tenha oferecido
contrapartidas.
Isso é
fundamental. Já chamei atenção para as delações de Benedicto Júnior (sobre
Geraldo Alckmin e Eduardo Paes), Pedro Novis (sobre José Serra) e Mário Amaro
da Silveira (sobre Kátia Abreu). Todos eles disseram ter feito, sim, doações às
respectivas campanhas dos políticos citados. Mas também asseveraram que não se
tratou de uma troca.
Se o
Ministério Público não conseguir provar o contrário, não poderá acusar esses
políticos de corrupção passiva, por exemplo. Mas anotem aí: mesmo assim, o
órgão vai tentar. E espero que o Judiciário cumpra a sua função: recusar a
denúncia. Só que isso é um desserviço para o país porque fica parecendo que a
Justiça atua em favor da impunidade.
Vamos ver... -
João Pacífico diz conhecer Bruno desde que este era adolescente. Afirma ter
relações pessoais com a família do agora ministro das Cidades. Diz que as
doações da empresa a Araújo foram feitas em razão as relações pessoais, mas
também porque se tratava de uma aposta de que viria a ser um político de
destaque. Aí pergunta um dos procuradores:
PROCURADOR –
Concretamente, ele auxiliou a Odebrecht nesses quase seis anos de mandato?
JOÃO PACÍFICO –
Olhe, eu o apresentei ao Cláudio Melo Filho [outro ex-diretor da Odebrecht] (…)
E Pacífico
cita trechos da delação de Melo Filho, mas é interrompido pelo procurador.
PROCURADOR –
Concretamente, o senhor se lembra de algum pedido que foi feito, se ele [Bruno]
trabalhou em favor da Odebrecht, em benefício da Odebrecht, alguma Medida
Provisória, algum ato legislativo.
JOÃO PACÍFICO –
Não, não, não!
O ex-diretor
nega com palavras e gestos, descartando peremptoriamente qualquer troca. E
acrescenta.
JOÃO PACÍFICO –
Se isso aconteceu, foi através de Cláudio Melo Filho. O que eu fiz foi
apresentá-lo [Araújo] a Cláudio Melo.
PROCURADOR –
Ouviu falar alguma coisa por intermédio de Cláudio Melo?
JOÃO PACÍFICO –
Não, não!
Então é o caso
de recorrer ao depoimento de Cláudio Melo Filho.
MELO FILHO - Eu
mantive com ele [Araújo] uma relação fraternal, institucional, profissional.
MELO FILHO - Depois
disso, em 2012, eu fui agraciado com a medalha Honra ao Mérito Legislativo, e a
indicação foi do próprio deputado. Várias vezes, nós almoçamos juntos,
conversamos, nos encontramos em ambientes sociais aqui de Brasília. E
gostávamos muito de falar de política (…). A gente sempre falava de política,
de Brasil e do meu Estado natal (Bahia). Essa foi a minha relação. Da parte
dele, não houve nenhuma solicitação de nada em termos de campanha porque ele
tinha a relação dele através do João Pacífico.
PROCURADORA –
O João Pacífico relatou ao senhor em que o Bruno poderia ajudar ou estava
ajudando os interesses da Odebrecht no Norte ou Nordeste?
MELO FILHO - Não!
ADVOGADO - Qual
o interessa da companhia em contribuir com o deputado Bruno Araújo?
MELO FILHO - Bruno
é um jovem talentoso politicamente, pelo menos no meu conceito; foi líder do
partido dele ainda jovem, quer dizer, tem uma penetração no partido e no
Congresso.
PROCURADORA –
O senhor já tratou de algum assunto com ele sobre a Odebrecht?
MELO FILHO - Não!
PROCURADORA - O
senhor, no seu relato aqui, informa que também conversou com o deputado Bruno
Araújo sobre renovação de contratos de energia do Nordeste.
MELO FILHO - Também
conversei sobre isso. Ele é pernambucano. Então, sobre esse tema, eu conversei
com parlamentares que eu conhecia, que eram do Nordeste. Bruno foi um deles.
Caminhando
para a conclusão - Acho que já está bom, não? Pacífico diz que a Odebrecht fez
duas doações — R$ 300 mil cada —, pelo caixa dois, para campanhas eleitorais de
Bruno. Mas nem ele nem Melo Filho relatam qualquer contrapartida do parlamentar
pernambucano e agora ministro. Nada!
Note-se:
Marcelo Odebrecht, que tem hoje poder de vida e morte sobre os políticos, disse
com todas as letras: há políticos honestos que receberam pelo caixa dois – e,
pois, o dinheiro não era propina. E há desonestos que levaram propina pelo
caixa um, com doações registradas.
A Justiça
garante a todos os mesmos direitos. E, por isso mesmo, tem de tratar
desigualmente os que foram tornados desiguais em razão dos crimes que
cometeram. O que vai acima relata, sim, caixa dois, mas não corrupção.
Jornalista tem
de jogar para os fatos. Não para a torcida.
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