Era um
encontro de trabalho como muitos que acontecem em Brasília. O ministro Dias
Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, e o empreiteiro José Aldemário Pinheiro
Filho, conhecido como Léo Pinheiro, então presidente da construtora OAS, já se
conheciam, mas não eram amigos nem tinham intimidade. No meio da conversa, o
ministro falou sobre um tema que lhe causava dor de cabeça. Sua casa,
localizada num bairro nobre de Brasília, apresentava infiltrações e problemas
na estrutura de alvenaria. De temperamento afável e voluntarioso, o empreiteiro
não hesitou. Dias depois, mandou uma equipe de engenheiros da OAS até a
residência de Toffoli para fazer uma vistoria.
Os técnicos
constataram as avarias, relataram a Léo Pinheiro que havia falhas na
impermeabilização da cobertura e sugeriram a solução. É um serviço complicado
e, em geral, de custo salgado. O empreiteiro indicou uma empresa especializada
para executar o trabalho. Terminada a obra, os engenheiros da OAS fizeram uma
nova vistoria para se certificarem de que tudo estava de acordo. Estava. O
ministro não teria mais problemas com as infiltrações — mas só com as
infiltrações.
A história
descrita está relatada em um dos capítulos da proposta de delação do
empreiteiro Léo Pinheiro, apresentada recentemente à Procuradoria-Geral da
República e à qual VEJA teve acesso. Condenado a dezesseis anos e quatro meses
de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no
escândalo do petrolão, Léo Pinheiro decidiu confessar seus crimes para não
passar o resto dos seus dias na cadeia.
Para ganhar
uma redução de pena, o executivo está disposto a sacrificar a fidelidade de
longa data a alguns figurões da República com os quais conviveu de perto na
última década. As histórias que se dispõe a contar, segundo os investigadores,
só são comparáveis às do empreiteiro Marcelo Odebrecht em poder destrutivo. No
anexo a que VEJA teve acesso, pela primeira vez uma delação no âmbito da
Lava-Jato chega a um ministro do Supremo Tribunal Federal.
Toffoli nega ter recebido qualquer favor da
OAS - Em nota, o ministro se defendeu. "O
ministro conhece o sr. José Adelmário Pinheiro Filho, mas não tem relação de
intimidade com ele, não tendo pedido ou recebido nenhum tipo de ajuda da
referida pessoa", diz ele.
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