sexta-feira, 25 de março de 2016

Delação de Pedro Corrêa põe em xeque: ministro do TCU, Lula, FHC e Aécio

O ex-deputado federal Pedro Corrêa (PE), ex-presidente do PP, cita políticos da base do governo e da oposição em sua delação premiada, negociada por cerca de oito meses e assinada há duas semanas com a PGR (Procuradoria Geral da República).

A Folha teve acesso a alguns trechos da delação de Corrêa, preso em Curitiba, chamados de "anexos". O acordo ainda precisa ser homologado pelo Supremo.
Em um destes anexos, intitulado "Mesada de Augusto Nardes", o ex-parlamentar mira o atual ministro do TCU (Tribunal de Contas da União).

Afirma que, entre 2003 e 2005, quando Nardes era deputado federal pelo PP, ele estava entre os nomes da bancada da Câmara que recebiam propina arrecadada pelo deputado José Janene (morto em 2010) junto à Petrobras e outros órgãos com diretorias indicadas pelo PP.

Corrêa lembra que, quando Nardes foi nomeado ministro do TCU, em 2005, foi destruído um recibo que comprovava o pagamento da propina. Era, segundo Corrêa, um recibo de valor "baixo", algo entre R$ 10 mil e R$ 20 mil.
Isso foi feito, de acordo com o ex-deputado, porque o documento poderia "prejudicar a nomeação".

O pernambucano também apresentou uma lista de operadores de propina e incluiu o nome de Andrea Neves, irmã do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e uma de suas principais assessoras, como a responsável por conduzir movimentações financeiras ligadas ao tucano.

A citação a ela é a primeira numa lista que inclui nomes como Marcos Valério, operador do mensalão, e Benedito Oliveira, o Bené, investigado na Operação Acrônimo, que apura suspeitas de irregularidades na campanha de Fernando Pimentel (PT) ao governo de Minas Gerais, no ano de 2014.

REELEIÇÃO - Também foi apresentado um anexo sobre o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que tem como foco a votação que aprovou a emenda constitucional possibilitando a sua reeleição, em 1997.
Segundo o relato, o ex-presidente FHC contou com apoio financeiro do empresariado para aprovar o projeto da reeleição.

Olavo Setubal, do Banco Itaú, morto em 2008, é mencionado como alguém que ajudou FHC. "Olavo Setubal dava bilhetes a parlamentares que acabavam de votar, para que se encaminhassem a um doleiro em Brasília e recebessem propinas em dólares americanos", diz o anexo, citando o relato do ex-deputado federal pernambucano.

A delação de Corrêa deve causar impacto, entre outros motivos, porque ele teve quase 40 anos de vida política, parte deles presidindo o PP, legenda que integrou a base aliada dos presidentes FHC, Lula e Dilma.

Passaram por seu crivo nomeações como a de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, um dos primeiros delatores da Lava Jato. A colaboração está consolidada em pouco mais de 70 anexos, cada um com um tema. São cinco referentes a Lula e cinco a Dilma.

LULA - Um dos fatos apontados por Corrêa envolvendo Lula, como revelou a revista "Veja" no ano passado, foi uma reunião com a participação dele, do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, e de José Eduardo Dutra, na época presidente da Petrobras, para acertar a nomeação de Costa para a diretoria da estatal, em 2004.

O ex-parlamentar e outros integrantes da cúpula do PP defendiam a nomeação, enquanto Dutra, sob pressão do PT, era contra.
Corrêa disse, porém, que Lula atuou em nome do indicado e revelou detalhes da conversa. "Mas Lula, eu entendo a posição do conselho. Não é da tradição da Petrobras, assim, sem mais nem menos trocar um diretor", disse Dutra, na época presidente da estatal.

Lula respondeu, segundo Corrêa: "Se fossemos pensar em tradição nem você era presidente da Petrobras e nem eu era presidente da República", teria dito.

De acordo com o relato, 15 dias depois deste diálogo, com a nomeação de Costa, o PP destravou a pauta do Congresso Nacional.

Apesar das revelações, há pouca prova documental apresentada pelo ex-parlamentar, um dos motivos que levaram sua negociação a ser uma das mais longas da Operação Lava Jato.

Os fatos narrados por Corrêa são vistos como "uma crônica política" que ajudará a completar lacunas de outras colaborações.

Com informações da Folha.com

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