terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Pesquisa aponta que mais de 80% dos pernambucanos estão endividados


Desde 2013, a taxa de endividamento das famílias brasileiras vem crescendo, chegando a atingir cerca de 77,9%, no ano de 2022, segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor. Um dos grandes vilões desse cenário pode ser o cartão de crédito e o parcelamento de compras, que representa cerca de 86,6% do montante de lares endividados. Em Pernambuco não é diferente, segundo dados da Pesquisa Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada pela Fecomércio-PE que aponta que, em 2022, 81% dos pernambucanos estavam endividados.

Fatores como inflação, alta de preços e juros podem contribuir com o endividamento. Aliás, o aumento dos preços de itens básicos como comidas e bebidas, que são de necessidade de sobrevivência, sofreram com a alta da inflação em 2022, com 5,8%. De acordo com a economista e professora do Centro Universitário dos Guararapes UNIFG (PE), Lytiene Rodrigues Cunha, o desemprego também contribui para que o Brasil tenha esse cenário.

"A taxa de desemprego no Brasil é de 8,5%, com a previsão de aumento em 2023 para 9,10%, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Com esse cenário como o nosso, com a taxa de juros de 13,75%, a mais alta do mundo, inibe qualquer empresário de aportar investimentos produtivos, financiar plantas, gerar empregos, ampliar os postos de trabalho. Embora a renda média no país, em 2022, tenha sido de R$ 2.787,00, mas para prover as despesas de uma família formada por 4 pessoas, a necessidade é de R$ 6.394,76, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - DIEESE", comenta.

O valor do salário-mínimo também contribui para o endividamento, de acordo com Lytiene. O valor atual de R$ 1.302,00 é recebido por aposentados, beneficiários de prestação continuada e parcela significativa dos trabalhadores, mas equivale apenas a 20,36% da necessidade de sobrevivência com dignidade das famílias, ou seja, insuficiente para cobrir gastos básicos com moradia, alimentos, transporte, saúde. "Todo o orçamento acaba sendo comprometido porque a conta não fecha. Existe uma disparidade entre o valor ganho e o valor gasto para mínima sobrevivência", afirma.

Também existe um perfil para as pessoas que estão endividadas, 78% possuem ensino médio completo ou um grau de instrução como curso técnico ou mesmo superior. "A maioria não possui educação financeira. Hoje é facilmente encontrada em conteúdos disponíveis na internet. O grande desafio encontra-se em construir um orçamento familiar dentro da renda real da família, sem a utilização de outras opções de crédito como o cartão, utilizado para ampliar, falsamente, o sentimento de que a renda é maior, aumentando assim o endividamento das famílias. O ideal é não realizar novos gastos se existem dívidas a serem honradas, exceto, se os gastos forem necessários. O poder de compra do trabalhador é defasado a cada dia. A inflação cobre o aumento de preços de uma cesta de produtos, que é considerada elementar. Mas a sobrevivência das pessoas demanda uma cesta muito maior de produtos, cujo aumento de preços não é levado em consideração", enfatiza.

Por fim, a dica de ouro é planejar, entender quais são as necessidades prioritárias, colocar todas as compras na ponta do lápis e evitar o uso de cartão de crédito, parcelamento com juros, evitar gastos desnecessários. "Novas compras só devem ser realizadas, depois de avaliadas, de forma cuidadosa, se o orçamento comporta a sua inserção, se não existe o comprometimento do pagamento das despesas necessárias já assumidas, ao realizá-los", finaliza.

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