terça-feira, 16 de março de 2021

Escolas e universidades de Pernambuco voltam a fechar as portas adaptando-se às aulas remotas


Aulas presenciais estão suspensas desde 28 de março em Pernambuco (Foto: Sandy James/Esp. DP)

A decisão do governo de Pernambuco, anunciada na tarde desta segunda-feira (15), de restringir o funcionamento de atividades consideradas não essenciais, em razão da escalada de casos da Covid-19, volta a impactar diretamente a rede de educação. Em todo o estado, as instituições públicas e privadas, em todos os níveis de ensino, precisarão fechar as portas a partir desta quinta-feira (18), seguindo até o dia 28 de março. Ao todo, a medida interfere no cotidiano de mais de 3.500 estabelecimentos, cerca de 30 mil professores e mais de 1 milhão de alunos, que devem retornar à rotina de aulas remotas. Entre os representantes da categoria, a decretação ainda divide opiniões. Para os docentes, seria uma decisão acertada, capaz de desacelerar a contaminação. Já os empresários do setor sinalizam a falta de diálogo, apontando uma suposta precipitação.

“Este realmente é o cenário correto, pelo qual nós vimos lutando desde o primeiro momento. Reabrir o ensino presencial este ano foi um grave erro, que não considerou os altos índices de contaminação, algo que já estava bem diante dos nossos olhos”, ressalta a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), Valéria Silva. Segundo a educadora, a entidade vem buscando, desde o ano passado, medidas que garantam a integridade dos alunos e profissionais da educação. “As escolas não são imunes ao vírus. Nós realizamos greve, fizemos passeata, ingressamos na Justiça e fizemos de tudo para demonstrar as autoridades que não havia condições de manter esta operação. Não fomos ouvidos no início, mas recebemos a decisão de agora como bastante acertada”, afirmou.

Sobre a necessidade de retorno às aulas online, Valéria reconhece o cenário de dificuldades, mas pontua que existem fatores muito mais fortes para serem colocados na balança. “Entendemos que, obviamente, existe um grande prejuízos aos alunos. A aula presencial e a sua troca de conhecimentos é algo insubstituível. Mas esta discussão precisa ir além, pois muito mais importante é a manutenção da vida”, ressaltou. Segundo ela, os esforços devem ser concentrados na melhoria das condições para a execução destas atividades. “Temos pressionado o governo para garantir a qualidade dos recursos e equipamentos. Sabemos que a grande maioria dos estudantes de escola pública não têm internet em casa ou um bom smartphone disponível. No entanto, é preciso assegurar direitos iguais para todos”, diz.

A nova quarentena em Pernambuco se pauta pelo quadro caótico nas unidades de saúde, na tentativa de evitar o colapso. Mesmo com a recente abertura de leitos, a ocupação já supera a marca de 90%, conforme dados apontados pela gestão estadual. Para o presidente do Sindicato dos Professores da Rede Privada de Pernambuco (Sinpro), Helmilton Bezerra, a posição também é vista com bons olhos. “Por mais que existam protocolos de saúde que estavam sendo cumpridos, além de um inegável esforço dos nossos profissionais na tentativa de se adequar, temos todo um universo de dificuldades. É preciso considerar o trajeto de casa até a escola, seja dos alunos ou dos professores e funcionários, além de entender que as unidades de ensino possuem diferentes portes e realidades. Não existiria fórmula mágica para barrar a entrada da doença”, explicou.

Para Helmilton, o caminho que aponta para medidas de lockdown segue em alinhamento com a ciência. “Não podemos trabalhar à base de ‘achismos’, o crescimento dos números de casos e de mortes é real, exigindo sacrifícios de todos os setores da sociedade”, disse. Ele lembrou o sistema moroso de vacinação, faltando uma cobertura em massa, o que poderia ser vital para mudar esta realidade. “Nós conhecemos a realidade das nossas escolas, que adquiriram, desde o ano passado, um certo know-how para dar andamento às aulas remotas. O tempo será de adequação, mas por uma razão muito mais importante, a continuidade da vida”, concluiu, lembrando a importância da organização do trabalho home-office, preservando os direitos dos trabalhadores.

Empresários do setor criticam falta de diálogo - Em contraponto, o diretor executivo do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino em Pernambuco (Sine/PE), Arnaldo Mendonça, enxerga o fechamento das escolas como uma decisão equivocada. “Permanecemos entendendo que a escola é um dos pouquíssimos locais onde se tem o absoluto controle da situação pandêmica”, partiu em defesa. Segundo o gestor, que representa cerca de 2.350 unidades particulares por todo o estado, não existiria motivo para esta decisão. “Não foi registrado nenhum caso de surto em nossas crianças ou adolescentes, nem tampouco qualquer disseminação grave identificada em nenhuma escola pernambucana”, diz.

Conforme Mendonça, não teria existido diálogo no tocante às regras para a decretação. “Ainda não sabemos, por exemplo, se os professores terão as condições asseguradas para se dirigirem até as escolas para realizarem suas aulas, sabendo que muitas unidades fizeram grandes investimentos em espaços multimídia e tecnologia para transmissão. Hoje percebemos este fechamento como algo muito mais psicológico, fruto de um medo coletivo, do que realmente representar um perigo”, opinou.

Escolas acreditam na readaptação - O desenvolvimento e a socialização dos alunos, dos quais as aulas presenciais também têm grande participação, é motivo de preocupação para pais e educadores. O diretor do Colégio Núcleo, Gilton Lyra, com unidades nos bairros da Jaqueira, na Zona Norte; e em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, avalia que o quadro atual é transitório. “Já estamos atualmente com o modelo hibrido, em alinhamento com pais que ainda não se sentiam seguros. Agora vamos migrar para o digital, sem representar prejuízos para o conteúdo programático”, afirma. Segundo ele, as escolas podem contribuir mais neste proceso. “Recebemos a decisão com bastante tranquilidade, sabendo que temos um papel fundamental na sociedade e podemos somar forças com esta necessária desaceleração da circulação do coronavírus”, afirmou.

Para o adolescente Luan Alencar, de 15 anos, matriculado no 9º Ano do Ensino Fundamental, a mudança de rotina gera certa apreensão. “Não gosto muito da ideia de ter que voltar a ficar em casa, vendo tudo pelo computador. Tem muita distração e isso acaba reduzindo o que a gente aprende”, conta. A interrupção também entristece a estudante Palloma Gueiros, de 13 anos, do 8º ano. “Sentirei muita falta dos colegas e do contato com os professores. Acho que nós estávamos fazendo a coisa certa, usando máscara, higienizando as mãos e poderíamos continuar na escola. Porém, sei que a doença é muito grave, sei que esta decisão foi necessária”, afirmou.

Procurada pelo Diario, a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco (SEE) informou, em nota, as aulas da rede pública estadual de ensino acontecerão de maneira remota de acordo com o planejamento das escolas e com o suporte das transmissões e dos materiais da plataforma Educa-PE. Conforme o órgão, diversas ações pedagógicas continuaram sendo aplicadas para dar apoio aos estudantes e os professores. O posicionamento diz, ainda, que o novo calendário das aulas para alunos do Ensino Fundamental e Infantil será anunciado, tão logo o decreto seja finalizado.

Com informações do Diário de Pernambuco

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