quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

"PSDB é oposição a Lula, mas defendo a independência", diz governadora Raquel Lyra


A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), adotou um tom distinto ao do presidente de seu partido, Marconi Perillo, e defendeu a independência da legenda em relação ao governo Lula, em vez de permanecer na oposição. Em processo de aproximação com a gestão petista, ela disse ainda que a sigla precisa “se reencontrar com a própria história”.

Como está a relação da senhora com o PSDB? - "É um partido que me deu espaço e me permitiu estar aqui. Mas sempre temos discussões internas sobre que rumos o PSDB deve tomar, o que se quer para o futuro".

Qual é o caminho? - "O PSDB tem que se reencontrar com a sua própria história e firmar uma estratégia para desenvolvimento do país e do próprio partido. A correlação de forças políticas mudou, e o partido, que diminuiu muito nas últimas décadas, precisa encontrar o caminho diante deste novo contexto. Temos uma discussão sobre o posicionamento em relação ao governo federal. O PSDB se posicionou sendo oposição ao governo do presidente Lula. Eu sempre defendi a postura de independência, considerando que o nosso país precisa voltar a crescer sem deixar ninguém para trás".

Por que independência? - "O país carece de políticas públicas estruturadas, que permitam gerar mais emprego, renda, garantir investimentos em infraestrutura e uma saúde pública de mais qualidade. E, para isso, exige-se uma grande concertação nacional. O partido deve voltar com uma postura de independência".

Mas o presidente recém-eleito do PSDB, Marconi Perillo, disse que o partido está na “oposição por convicção”... - "A gente não teve uma conversa mais profunda, mas na última vez em que estive com ele, coloquei esse tema como uma das minhas preocupações e inquietações. O posicionamento do partido será sempre de respeitar a minha posição. Mas a gente precisa ter um debate mais amplo ainda".

Perillo defende também o lançamento de uma candidatura própria à Presidência em 2026. É o melhor a ser feito? - "São duas coisas distintas. O PSDB não está impedido de lançar uma candidatura nacional, porque sempre apresentou candidaturas. Isso não se choca com o posicionamento em relação ao governo que hoje está liderando o país".

Nomes como o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) voltaram a ganhar força do partido. Falta renovação? - "De maneira geral, na política, há muita dificuldade de renovação de quadros. O fato de eu, Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) sermos governadores já demonstra renovação. Mas não é simples, né? Os partidos precisam estar mais abertos. Defendo que na regra da distribuição do fundo eleitoral haja clareza, privilegiando o lançamento de novos nomes que permitam essa renovação orgânica".

Na semana passada, o presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, Álvaro Porto, seu correligionário, disse que a senhora “conversou merda demais” e “não disse nada” em um discurso. Abalou sua relação com o partido? - "Muito pelo contrário. O PSDB sabe das dificuldades que existem quando se trata de uma mulher ocupando o espaço do poder. Neste caso, de uma nordestina, primeira governadora de Pernambuco. Enfrento todos os dias na política algum tipo de violência, muitas vezes velada. Tantas outras são explícitas, como a que foi colocada na semana passada".

Acha que um homem teria sido alvo de um comentário desse tipo? - "Não haveria como. Não haveria tantos outros questionamentos como existem aqui em Pernambuco. Dê um Google e olhe como se trata de forma diferente homens e mulheres que ocupam os mesmos cargos. Os adjetivos que se usam, a forma como a gente é julgada, os questionamentos que se fazem... São muito diferentes. Certamente, se eu fosse um homem governador, não teria aquilo".

Vai ficar no PSDB? - "Estou no PSDB e sou grata ao partido, porque ele me permitiu estar onde estou e disputar todas as eleições em que me coloquei. Isso não muda por enquanto".

Matéria especial da Folha de Pernambuco

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