segunda-feira, 22 de maio de 2023

Do Blog do Magno Martins - A forma sutil de Arraes “expulsar” Joaquim Francisco numa audiência


Eleito prefeito do Recife em 1988, derrotando Marcus Cunha, apoiado por Jarbas Vasconcelos no exercício da gestão municipal, Joaquim Francisco não conviveu com Miguel Arraes nem gozou da sua intimidade em horas de relax, mas seu pai José Francisco, ex-deputado estadual e governador do Estado em exercício, era muito amigo do mito.

Arraes dava sinais de que também tinha apreço por Joaquim. E, indiretamente, o ajudou em duas eleições. Na de prefeito, porque não tolerava Marcus Cunha, escolhido por Jarbas, e em 1990, quando o próprio Jarbas foi derrotado por Joaquim na corrida pelo Palácio do Campo das Princesas.

Em ambas as eleições, Arraes fez corpo mole, não moveu uma palha para ver Jarbas vitorioso. Tudo porque Jarbas apoiou o nome do ex-senador Marcos Freire para governador em 1982, preterindo Arraes, que havia voltado do exílio e se sentia no direito de disputar o Governo do Estado, embora Marcos Freire tivesse ocupado o vácuo da falta de uma liderança de esquerda nos anos em que Arraes esteve exilado.

Eleito prefeito, Joaquim precisava fazer uma gestão compartilhada com o Estado e resolveu pedir uma audiência ao então governador Miguel Arraes, seis meses após tomar posse, em 1989. Arraes quando não queria que uma audiência se prolongasse muito usava algumas táticas infalíveis nos despachos no gabinete das Princesas.

Uma delas era desligar o ar-condicionado do amplo salão em que recebia autoridades. Joaquim subiu as escadarias do Palácio do Campo das Princesas por volta de meio-dia, de paletó e gravata, num dia quente, bem próximo ao que se observa no Rio de Janeiro quando vive seu Rio 40 graus.

Com dez minutos de conversa, mesmo com as janelas da sala de despacho abertas para correr um ventinho, Joaquim suava mais do que tampa de chaleira diante de um Arraes que vestia apenas blazer. Transpirava mais do que o normal por dois motivos: primeiro porque estava quente feito as térmicas de Caldas Novas e em segundo pelo nervosismo e ansiedade. Era o primeiro encontro formal entre dois gestores em campos opostos e Joaquim precisava do apoio do Estado.

Mas eis que Joaquim, não suportando mais o calor infernal, se dirige a Arraes. “Doutor Arraes, mande ligar esses ar-condicionados, pelo amor de Deus!” E tome a enxugar o rosto com um lenço branco.

Arraes olhou em direção a Joaquim e com sua veia sarcástica e bem-humorada, brincou: “Mas rapaz, você é um fidalgo. Nem parece ser filho do meu amigo Zé, que não nunca teve esses luxos. É que estamos em contenção de despesas e racionamento de energia”. E deu uma gargalhada!

Vendo que o ambiente ia continuar quente, Joaquim só passou mais 10 minutos e foi embora, dizendo: “Da próxima vez, doutor Arraes, não me deixe morrer esbaforido de calor”.

“Vou dizer a Zé Francisco”, devolveu Arraes, dando mais uma gostosa gargalhada.

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